quarta-feira, 3 de julho de 2013

Trotes Estudantis

"Consta que o trote estudantil nasceu nas universidades européias na Idade Média. Tendo em vista o terrível baixo nível de higiene da época, por razões profiláticas, isto é, para evitar doenças e sua proliferação, raspava-se a cabeça dos alunos ingressantes (os calouros) e muitas vezes queimavam-se suas roupas. Essas questões, inicialmente, higiênicas, muito provavelmente influenciadas pelo grau de selvageria reinante, já no século XIV, nas Universidades de Bolonha, Paris e Heidelberg, haviam se transformado em rituais bárbaros claramente sadomasoquistas: Os veteranos arrancavam pelo e cabelos dos calouros, que muitas vezes eram obrigados a ingerir urina e comer excrementos. (Fatos observados em faculdades de medicina no Brasil do século XX). Em Portugal, há relatos de trotes violentos no Século XVIII na Universidade de Coimbra. Tudo indica que os estudantes da elite brasileira que lá estudaram tenham importado a prática para o território nacional. A ignorância e a bestialidade do ritual fez sua primeira vítima fatal no ano de 1831, com a morte de um estudante da Faculdade de Direito de Olinda. Os trotes, assim como os crimes e as mortes continuaram por todo o século XX: em 1980 um calouro de um curso de jornalismo foi morto por traumatismo cranioencefálico em Mogi das Cruzes; em 1990 morreu de parada cardíaca um calouro do curso de direito em Goiás; em 1999, um calouro de medicina da USP morreu afogado em uma piscina." 

"Demais casos que também são tipificados como crimes:
- Cortar o cabelo total ou parcialmente do calouro ou da caloura contra sua vontade caracteriza crime de lesão corporal (art. 129 do Código Penal-CP). O mesmo ocorre cortando-se a barba total ou parcialmente do calouro.
- Humilhar o calouro ridicularizando-o publicamente, pintando seu corpo, fazendo "cavalgada" (modo esdrúxulo do veterano sentar sobre o calouro de quatro ao solo fingindo ser um cavalo, um jumento ou um burro), amarrar o calouro, faze-lo gatinhar pelas ruas, faze-los andar um colado no outro como uma centopéia e todos os outros métodos sádicos e degradantes semelhantes são caracterizados como crime de injúria (Artigo 140 do CP).
- Obrigar o calouro a ingerir bebida alcoólica contra sua vontade é crime de constrangimento ilegal (art. 146 do CP) e se esse tipo de ação é praticada por mais de três pessoas (como normalmente ocorre) o crime é qualificado e tem a pena aumentada. Se, por acaso, o calouro resiste e não bebe o crime pode ser caracterizado como de tentativa (art. 14, II do CP).
Haverá outros crimes que possam ser praticados, além daqueles em que são cometidos assassinatos. E, anoto, também, que os delitos podem ser considerados em concurso, isto é, o veterano pode ser condenado como incurso em mais de um crime simultaneamente."

( Rizzatto Nunes, São Paulo)



Minha intenção aqui é apresentar uma outra face dos trotes estudantis

Antes de mais nada  ressalto que sou contra qualquer forma de violência. A priori é importante levarmos em conta que a generalização é um possível caminho para equívocos, além de considerarmos que não são todos os cursos e universidades que agem de forma agressiva e/ou totalmente passiva perante os trotes. Vale ressaltar também que as observações contidas nas leis expostas acima são direcionadas aos discentes das universidade mas guardam nas entrelinhas características que defendem questões aplicáveis a todos os indivíduos, como autonomia, por exemplo. Ou até mesmo questões mais corriqueiras que são comumente ignoradas, como os limites "do outro", que a todo momento são desrespeitados. Detalhes simples que não recebem as atenções devidas, o que nos leva a refletir de maneira mais ampla, inclusive, não só a respeito do tema mas também das nossas relações diárias.

Atualmente em algumas universidades e cursos o trote já exerce sua nova face. No curso de Filosofia da UFF (Universidade Federal Fluminense) o trote tem um outro nome e acontece durante uma semana, onde são realizados movimentos artísticos, políticos e de integração. Integração entre os discentes do próprio curso e de outros. No curso de Psicologia da UFRJ o esquema é tão diferenciado quanto. Alunos se juntam e constroem a Semana de Ambientação dos Novos Alunos, que é institucional e engloba palestras, debates, curiosidades, dinâmicas, entre outras atividades que incluem o Centro Acadêmico, Movimento Estudantil, Empresa Junior, Departamentos etc. Com o intuito de habituar os que estão chegando e promover a interação desses com a universidade. E além da semana institucional, ocorre o trote, que é construído por outro grupo de alunos, que montam uma comissão no intuito de organizar as brincadeiras, os chamados "trotes solidários" ,(Doação de Sangue, de alimentos, visitas a orfanatos) as pinturas (que são artísticas) e as confraternizações, que são importantíssimas, pois possibilitam também uma integração maior. O dinheiro arrecadado no trote não é destinado somente a festas. É também destinado ao Centro Acadêmico com finalidades como concerto de microondas, reforma do espaço e etc. Utilizado por todos os estudantes do curso. Mas tudo isso, o trote e a Semana de Ambientação, não obrigam ou humilham qualquer pessoa que queira ou não participar. É de livre escolha e a mesma é muito respeitada. O que torna tudo mais saudável e acaba levando dos mais extrovertidos aos mais tímidos a vontade de participar.


Esses momentos de maior contato e integração entre os calouros é essencial, visto que, pode ser muito divertido e quando é pode soar até como motivação para os que se sentem inseguros perante o mundo novo que estão se inserindo. Penso que enquanto seres que respeitam o espaço e os limites do outro, sem tendências sádicas, devemos intervir de maneira direta, propondo de forma pacífica reflexões a cerca, criando propostas contrárias e mais ricas para a recepção. Há de convir que, não é tão difícil assim tentar se colocar no lugar do outro. (Natasha Iane) 
 
 http://natashaiane.blogspot.com.br/2013/04/trotes-estudantis.html

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