"Consta
que o trote estudantil nasceu nas universidades européias na Idade
Média. Tendo em vista o terrível baixo nível de higiene da época, por
razões profiláticas, isto é, para evitar doenças e sua proliferação,
raspava-se a cabeça dos alunos ingressantes (os calouros) e muitas vezes
queimavam-se suas roupas. Essas questões, inicialmente, higiênicas,
muito provavelmente influenciadas pelo grau de selvageria reinante, já
no século XIV, nas Universidades de Bolonha, Paris e Heidelberg, haviam
se transformado em rituais bárbaros claramente sadomasoquistas: Os
veteranos arrancavam pelo e cabelos dos calouros, que muitas vezes eram
obrigados a ingerir urina e comer excrementos. (Fatos observados em
faculdades de medicina no Brasil do século XX).
Em Portugal, há relatos de trotes violentos no Século XVIII na
Universidade de Coimbra. Tudo indica que os estudantes da elite
brasileira que lá estudaram tenham importado a prática para o território
nacional. A ignorância e a bestialidade do ritual fez sua primeira
vítima fatal no ano de 1831, com a morte de um estudante da Faculdade de
Direito de Olinda. Os trotes, assim como os crimes e as mortes
continuaram por todo o século XX: em 1980 um calouro de um curso de
jornalismo foi morto por traumatismo cranioencefálico em Mogi das
Cruzes; em 1990 morreu de parada cardíaca um calouro do curso de direito
em Goiás; em 1999, um calouro de medicina da USP morreu afogado em uma
piscina."
"Demais casos que também são tipificados como crimes:
-
Cortar o cabelo total ou parcialmente do calouro ou da caloura contra
sua vontade caracteriza crime de lesão corporal (art. 129 do Código
Penal-CP). O mesmo ocorre cortando-se a barba total ou parcialmente do
calouro.
-
Humilhar o calouro ridicularizando-o publicamente, pintando seu corpo,
fazendo "cavalgada" (modo esdrúxulo do veterano sentar sobre o calouro
de quatro ao solo fingindo ser um cavalo, um jumento ou um burro),
amarrar o calouro, faze-lo gatinhar pelas ruas, faze-los andar um colado
no outro como uma centopéia e todos os outros métodos sádicos e
degradantes semelhantes são caracterizados como crime de injúria (Artigo
140 do CP).
-
Obrigar o calouro a ingerir bebida alcoólica contra sua vontade é crime
de constrangimento ilegal (art. 146 do CP) e se esse tipo de ação é
praticada por mais de três pessoas (como normalmente ocorre) o crime é
qualificado e tem a pena aumentada. Se, por acaso, o calouro resiste e
não bebe o crime pode ser caracterizado como de tentativa (art. 14, II
do CP).
Haverá
outros crimes que possam ser praticados, além daqueles em que são
cometidos assassinatos. E, anoto, também, que os delitos podem ser
considerados em concurso, isto é, o veterano pode ser condenado como
incurso em mais de um crime simultaneamente."
( Rizzatto Nunes, São Paulo)
Minha intenção aqui é apresentar uma outra face dos trotes estudantis.
Antes de mais nada
ressalto que sou contra qualquer forma de violência. A priori é
importante levarmos em conta que a generalização é um possível caminho
para equívocos, além de considerarmos que não são todos os cursos e
universidades que agem de forma agressiva e/ou totalmente passiva
perante os trotes. Vale ressaltar também que as observações contidas nas
leis expostas acima são direcionadas aos discentes das universidade mas
guardam nas entrelinhas características que defendem questões
aplicáveis a todos os indivíduos, como autonomia, por exemplo. Ou até
mesmo questões mais corriqueiras que são comumente ignoradas, como os
limites "do outro", que a todo momento são desrespeitados. Detalhes
simples que não recebem as atenções devidas, o que nos leva a refletir
de maneira mais ampla, inclusive, não só a respeito do tema mas também
das nossas relações diárias.
Atualmente em algumas
universidades e cursos o trote já exerce sua nova face. No curso de
Filosofia da UFF (Universidade Federal Fluminense) o trote tem um outro
nome e acontece durante uma semana, onde são realizados movimentos
artísticos, políticos e de integração. Integração entre os discentes do
próprio curso e de outros. No curso de Psicologia da UFRJ o esquema é
tão diferenciado quanto. Alunos se juntam e constroem a Semana de
Ambientação dos Novos Alunos, que é institucional e engloba palestras,
debates, curiosidades, dinâmicas, entre outras atividades que incluem o
Centro Acadêmico, Movimento Estudantil, Empresa Junior, Departamentos
etc. Com o intuito de habituar os que estão chegando e promover a
interação desses com a universidade. E além da semana institucional,
ocorre o trote, que é construído por outro grupo de alunos, que montam
uma comissão no intuito de organizar as brincadeiras, os chamados
"trotes solidários" ,(Doação de Sangue, de alimentos, visitas a
orfanatos) as pinturas (que são artísticas) e as confraternizações, que
são importantíssimas, pois possibilitam também uma integração maior. O
dinheiro arrecadado no trote não é destinado somente a festas. É também
destinado ao Centro Acadêmico com finalidades como concerto de
microondas, reforma do espaço e etc. Utilizado por todos os estudantes
do curso. Mas tudo isso, o trote e a Semana de Ambientação, não obrigam
ou humilham qualquer pessoa que queira ou não participar. É de livre
escolha e a mesma é muito respeitada. O que torna tudo mais saudável e
acaba levando dos mais extrovertidos aos mais tímidos a vontade de
participar.
Esses momentos de maior contato e integração entre os calouros é essencial, visto que, pode ser muito divertido e quando é pode soar até como motivação para os que se sentem inseguros perante o mundo novo que estão se inserindo. Penso que enquanto seres que respeitam o espaço e os limites do outro, sem tendências sádicas, devemos intervir de maneira direta, propondo de forma pacífica reflexões a cerca, criando propostas contrárias e mais ricas para a recepção. Há de convir que, não é tão difícil assim tentar se colocar no lugar do outro. (Natasha Iane)
Esses momentos de maior contato e integração entre os calouros é essencial, visto que, pode ser muito divertido e quando é pode soar até como motivação para os que se sentem inseguros perante o mundo novo que estão se inserindo. Penso que enquanto seres que respeitam o espaço e os limites do outro, sem tendências sádicas, devemos intervir de maneira direta, propondo de forma pacífica reflexões a cerca, criando propostas contrárias e mais ricas para a recepção. Há de convir que, não é tão difícil assim tentar se colocar no lugar do outro. (Natasha Iane)
http://natashaiane.blogspot.com.br/2013/04/trotes-estudantis.html
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