Jogar videogame, sair para namorar ou simplesmente dar uma volta por aí
são algumas das tentações que podem atrair qualquer jovem no momento em
que ele estiver na escola.
Mas agora, em Itagibá, no Sudoeste do estado, “filar” aula ficou mais
difícil. Os alunos de três escolas da rede municipal terão um dedo-duro
no corpo: o uniforme inteligente.
Equipado com uma etiqueta RFID (identificação por rádio-frequência), o
uniforme é reconhecido por sensores na portaria da escola e os pais são
informados por mensagem de texto que o aluno chegou ou saiu da
instituição. A escola também é notificada.
O sistema, que foi implantado na cidade
de Vitória da Conquista no ano passado, foi adotado para evitar que
jovens que, em tese, estavam na escola, ficassem pela rua.
“Os meninos estavam se envolvendo com drogas, por exemplo. O objetivo é
combater a evasão, mas também criar uma relação mais estreita entre
pais e escola”, disse a secretária municipal de Educação de Itagibá,
Elinea Souza.
Em 2012, 341 alunos dos 3.444 matriculados abandonaram as escolas do município, um índice de 10%.
“Ajuda até a planejar a merenda da escola, porque ficamos sabendo
quantos alunos vieram”, disse a diretora do Colégio Municipal 14 de
Agosto, Célia Renê Gouveia.
Aos estudantes que já estiverem pensando em como driblar a própria
farda, Célia esclarece: “pode lavar, botar na máquina e passar que não
estraga o chip”. E se um estudante levar a farda do colega na mochila?
“Já fiz o teste: o computador acusa a presença. Mas, na chamada, o
professor verifica a ausência”, explica.
O investimento da prefeitura foi de R$ 300 mil para atender,
inicialmente, três das seis unidades de ensino do município. A
iniciativa, neste primeiro momento, abrange 1.200 estudantes. Cada aluno
receberá duas camisetas com a etiqueta. Não há custo para os pais ou
responsáveis.
“Eu não gostei muito de saber que os nossos pais vão receber mensagens
da escola. Mas, depois, achei legal. É diferente”, disse Ellen Miranda
Borges, 12, aluna do 7º ano do Colégio 14 de Agosto que garante que não
vai desviar do caminho da escola.
Carla Santos da Silva, 37, mãe de uma aluna, “amou” a ideia: “Quando eu
soube do uniforme, pensei: por que não tinha isso antes?”.
Ela tem um bom motivo para gostar da ideia: sua filha Dâmaris, 15 anos,
matava aulas para encontrar o namorado e há dois meses engravidou. “Eu
saio cedo pro trabalho, então não podia acompanhar até a escola. Vim
saber depois, o boletim cheio de faltas”.
“Muitos deles (adolescentes) são influenciáveis. Param no caminho para
jogar, namorar. Acho que vai ter uma redução”, completa Rosana Souza,
também mãe de uma estudante.
Crítica
A doutora em Educação Telma Brito, professora do Ifba, vê o uniforme
apenas um dispositivo de controle. “É uma aposta equivocada, porque quer
dar conta de elementos que fogem ao nosso controle. Para saber se os
filhos estão na escola, os pais precisam criar vínculos de confiança,
cumplicidade, diálogo”, argumenta.
Para a educadora, é preciso investir na causa do problema. “O aluno
evade porque tem que trabalhar, porque não está conseguindo acompanhar
cognitivamente, por diferentes realidades. Não vai ser um chip que vai
dar conta de resolver um problema estrutural”, avalia Telma.
Segundo a secretária de Educação de Itagibá, o uniforme foi bem
recebido, mas não é unanimidade. “Alguns pais fizeram críticas, de que é
tirar a privacidade dos alunos. Acredito que como o público tem até uns
14 anos, ainda não é uma idade para ter total autonomia”, diz Elinea
Souza.
Para Telma Brito, o dinheiro investido com o uniforme poderia ter outro
uso. “Se a escola é aquela mesmice a vida toda, não se torna um
ambiente atrativo, com práticas distantes do seu mundo, aí ele prefere
ficar na lan house, na praça. Por que não pega esse dinheiro e investe
no professor e em instrumentos de trabalho eficientes?”, sugere.
Fonte: Correio
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