domingo, 7 de julho de 2013

Itagibá é a segunda cidade na Bahia a adotar uniforme escolar com chip

Jogar videogame, sair para namorar ou simplesmente dar uma volta por aí são algumas das tentações que podem atrair qualquer jovem no momento em que ele estiver na escola. 
 
Mas agora, em Itagibá,  no Sudoeste do estado, “filar” aula ficou mais difícil. Os alunos de três escolas da rede municipal terão um dedo-duro no corpo: o uniforme inteligente. 
 
Equipado com uma etiqueta RFID (identificação por rádio-frequência), o uniforme é reconhecido por sensores na portaria da escola e os pais são informados por mensagem de texto que o aluno chegou ou saiu da instituição. A escola também é notificada. 
 
O sistema, que foi implantado na cidade de Vitória da Conquista no ano passado, foi adotado para evitar que jovens que, em tese, estavam na escola, ficassem pela rua.
 
“Os meninos estavam se envolvendo com drogas, por exemplo. O objetivo é combater a evasão, mas também criar uma relação mais estreita entre pais e escola”, disse a secretária municipal de Educação de Itagibá, Elinea Souza.
 
Em 2012, 341 alunos dos 3.444 matriculados abandonaram as escolas do município, um índice de 10%. 
 
“Ajuda até a planejar a merenda da escola, porque ficamos sabendo quantos alunos vieram”, disse a diretora do Colégio Municipal 14 de Agosto, Célia Renê Gouveia. 
 
Aos estudantes que já estiverem pensando em como driblar a própria farda, Célia esclarece: “pode lavar, botar na máquina e passar que não estraga o chip”. E se um estudante levar a farda do colega na mochila? “Já fiz o teste: o computador acusa a presença. Mas, na chamada, o professor verifica a ausência”, explica. 
 
O investimento da prefeitura foi de R$ 300 mil para atender, inicialmente, três das seis unidades de ensino do município. A iniciativa, neste primeiro momento, abrange 1.200 estudantes. Cada aluno receberá duas camisetas com a etiqueta. Não há custo para os pais ou responsáveis. 
 
“Eu não gostei muito de saber que os nossos pais vão receber mensagens da escola. Mas, depois, achei legal. É diferente”, disse Ellen Miranda Borges, 12, aluna do 7º ano do Colégio 14 de Agosto que garante que não vai desviar do caminho da escola. 
Carla Santos da Silva, 37, mãe de uma aluna, “amou” a ideia: “Quando eu soube do uniforme, pensei: por que não tinha  isso antes?”. 
 
Ela tem um bom motivo para gostar da ideia: sua filha Dâmaris, 15 anos, matava aulas para encontrar o namorado e há dois meses engravidou. “Eu saio cedo pro trabalho, então não podia acompanhar até a escola. Vim saber depois, o boletim cheio de faltas”. 
 
“Muitos deles (adolescentes) são influenciáveis. Param no caminho para jogar, namorar. Acho que vai ter uma redução”, completa Rosana Souza, também mãe de uma estudante. 
 
Crítica 
 
A doutora em Educação Telma Brito, professora do Ifba, vê o uniforme apenas um dispositivo de controle. “É uma aposta equivocada, porque quer dar conta de elementos que fogem ao nosso controle. Para saber se os filhos estão na escola, os pais precisam criar vínculos de confiança, cumplicidade, diálogo”, argumenta. 
 
Para a educadora, é preciso investir na causa do problema.  “O aluno evade porque tem que trabalhar, porque não está conseguindo acompanhar cognitivamente, por diferentes realidades. Não vai ser um chip que vai dar conta de resolver um problema estrutural”, avalia Telma. 
 
Segundo a secretária de Educação de Itagibá, o uniforme foi bem recebido, mas não é unanimidade. “Alguns pais fizeram críticas, de que é tirar a privacidade dos alunos. Acredito que como o público tem até uns 14 anos, ainda não é uma idade para ter total autonomia”, diz Elinea Souza. 
 
Para Telma Brito, o dinheiro investido com o uniforme poderia ter outro uso. “Se a escola é aquela mesmice a vida toda, não se torna um ambiente atrativo, com práticas distantes do seu mundo, aí ele prefere ficar na lan house, na praça. Por que não pega esse dinheiro e investe no professor e em instrumentos de trabalho eficientes?”, sugere.
 
 
Fonte: Correio

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