segunda-feira, 29 de novembro de 2010

BBC acusa Ricardo Teixeira de receber US$ 9,5 mi de propina da ISL


GENEBRA - O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, recebeu pagamentos em uma conta secreta em Liechteinstein de US$ 9,5 milhões da empresa ISL entre agosto de 1992 e 28 de novembro de 1997. As remessas seriam feitas com valores de US$ 250 mil cada, em 21 parcelas em uma empresa fantasma registrada num paraíso fiscal. A acusação foi ao no último domingo na rede BBC e publicados no prestigioso jornal de Zurique, Tages-Anzeiger.
A emissora britânica revelou o pagamento de mais de US$ 100 milhões em propinas entre a ISL e a Fifa, por meio da criação de empresas fantasmas por parte de membros do Comitê Executivo da entidade. Em um documento obtido pela BBC, 175 pagamentos de propinas são descritos pela ISL aos membros da Fifa. Parte delas iriam para o que a BBC chamou de "o homem encarregado da próxima Copa do Mundo, no Brasil em 2014. Ele é Ricardo Teixeira".

A empresa que recebeu propinas e que aparece na lista revelada ontem é a Sanud, com base no principado de Liechtenstein e um dos principais paraísos fiscais do mundo, a apenas alguns quilômetros da sede da Fifa em Zurique. Mas a BBC descobriu que se trata da mesma companhia que a CPI do Futebol no Brasil já havia indicado como tendo participação de Teixeira.

Segundo a BBC, perguntas foram enviadas a Teixeira. Mas o cartola nunca as respondeu. A reportagem também tentou falar com o brasileiro em Zurique, sem sucesso. Além de Teixeira, o programa da BBC questiona também um pagamento da ISL para "Garentie JH" no valor de US$ 1 milhão. A emissora especula se tal pagamento não seria para João Havelange, já que JH seriam suas iniciais.

As informações foram publicadas e divulgadas às vésperas da escolha das sedes da Copa de 2018 e de 2022. Na quinta-feira, a Fifa recebe reis, chefes de estado e personalidades de nove países que buscam organizar a Copa do Mundo. O processo, porém, tem sido marcado por acusações de corrupção e polêmicas. A Fifa já afastou seis de seus cartolas, pegos em vídeos secretos oferecendo vender seus votos em troca de milhões de dólares. Mas apenas aplicou multas leves.

Agora, as revelações apontam para Teixeira, considerado como potencial candidato para a presidência da Fifa em 2015. Segundo o Tages Anzeiger, uma empresa de fachada em Liechtenstein teria sido criada para receber os recursos. A empresa seria a Sanud Establissement, registrada na cidade de Domizil, no principado de Liechtenstein.

O autor da reportagem, Jean Francois Tanda, explicou ontem ao Estado que teve acesso a documentos internos da ISL que mostrariam os depósitos para a Sanud. Em uma das linhas do documento, o nome da empresa aparece ao lado de uma menção à Adidas, com um valor de US$ 100 mil. Os mesmos documentos foram obtidos pela BBC.

A companhia seria usada para receber os recursos da já falida ISL, empresa que comercializava os direitos de transmissão da Copa e que foi acusada de pagar propinas para garantir certos contratos. Na cidade de Zug, um tribunal ainda revelou em julho que Nicolas Leoz, presidente da Conmebol, havia também recebido recursos da ISL, por meio de empresas de fachada, assim como Issa Hayatou. O problema é que, nos anos 90, o pagamento de propinas por uma empresa na Suíça não era ilegal, contanto que o dinheiro não saísse do país ou de Liechtenstein.

Em julho, um acordo no Tribunal e a devolução de parte desse dinheiro encerrou o caso e os demais nomes jamais foram revelados pela Justiça. O problema é que a lista com os nomes agora acabou vazando para a BBC. A notícia sobre Teixeira vem um dia depois que outro jornal suíço, o SonntagsZeitung, revelou que membros do Comitê Executivo da Fifa mantinham empresas de fechada, usadas para receber dinheiro de pagamentos de propinas. Segundo o jornal, um membro que seria também representante no COI também teria uma empresa de fachada.

Investigação. Se a Fifa deu o caso por encerrado, o mesmo não se pode dizer das autoridades suíças. Ontem, o Ministério Público de Zurique confirmou que iniciou um processo de investigação para determinar se as alegações de pagamentos de propina não ferem as leis suíças.

Hoje, pelas normas do país, membros de entidades internacionais como a Fifa não podem ser alvo de acusações por parte de procuradores suíços. Mas o governo já indicou que não está disposto a ser plataforma para que entidade usem a Suíça para corrupção. A Fifa insiste que não tem porque aceitar uma investigação externa, já que teria punido os que não respeitaram o código de ética, entre eles um vice-presidente da entidade. Mas as autoridades suíças não estão satisfeitas. Ontem, o diretor do Departamento Federal para os Esportes, Matthias Remund, anunciou que uma investigação separada seria conduzida para determinar se as leis do país não foram violadas. O próprio ministro de Esportes, Uli Maurer, o fim da imunidade que goza a Fifa terá de ser abolido. Sua ideia é a de reformar as leis do país para permitir que investigações possam ocorrer.

Um dos problemas é o caráter que a Fifa mantém na lei local. A entidade insiste que é uma entidade sem fins lucrativos. A cada ano, no lugar de declarar que tem lucros, apenas afirma que tem um superávit de milhões de dólares. Nos últimos quatro anos, esse superávit chegou a US$ 678 milhões.

Sem comentários. Durante evento empresarial nesta segunda-feira, em São Paulo, Ricardo Teixeira não concedeu entrevista aos jornalistas presentes. Apenas o diretor de comunicação da CBF, Rodrigo Paiva, trocou algumas palavras, dizendo que sequer existe denúncia a respeito disso, e que esta história é velha, sem fundamento algum.

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