terça-feira, 28 de setembro de 2010

Fiquemos alertas: oposição golpista quer levar o Brasil a uma guerra civil

Vou parodiar o presidente Lula e usar o futebol para falar de política. É que, tal como ocorreu ao professor Idelber Avelar (que, aliás, voltou a atualizar o obrigatório Biscoito Fino e a Massa), também tive o privilégio de dividir uma mesa de bar com Sócrates Brasileiro, ídolo da minha infância, de quem levei o mesmíssimo esporro ao perguntar algo sobre a derrota do Brasil na Copa de 82: “O que significa ganhar? O que é ganhar? Ganhar não é porra nenhuma, não representa nada”.
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Outro grande homem, Darcy Ribeiro, disse o mesmo com outras palavras: “Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer o Brasil se desenvolver com autonomia e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu odiaria estar no lugar de quem me venceu”.
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É assim, com humildade e sabedoria, que devemos encarar as nossas derrotas. Elas são muitas ao longo da vida: perdemos a primeira namorada para um cara mais velho ou mais rico ou mais bonito ou mais forte ou mais engraçado do que nós; pouco depois, perdemos o melhor amigo, que sobe na empresa e passa a nos tratar com indiferença ou superioridade; sem aviso prévio, perdemos nossos avós na calada da noite e nossos pais numa manhã de chuva; perdemos, com a idade adulta, as nossas ilusões e a nossa inocência; perdemos mais do que ganhamos.
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A derrota não é sinal de fracasso. Muitas vezes, uma derrota pode ser mais digna do que uma vitória. É o caso, por exemplo, do time pequeno, que joga com o coração na ponta da chuteira contra o time grande. E que entra em campo disposto a dar a vida pelo clube, mesmo sabendo que derrotar o adversário poderoso será uma tarefa quase impossível. Mais: um time que é derrotado pela arbitragem, que é roubado, vilipendiado, será sempre o vitorioso, ainda que perca. A vitória suja não engrandece ninguém. Ela é tão imoral que enlameia as mãos do vencedor.
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Na política, como na vida e no futebol, saber perder é uma arte. Perde-se muito. Temos perdido desde sempre. Lula perdeu três eleições antes de chegar à presidência. E insistiu, e chegou lá, porque respeitou as regras do jogo. Nesta batalha, pode ter perdido muitos aliados, que preferiram se manter presos a um modelo de esquerda que caiu com a União Soviética. Pode ter perdido, como perdeu, velhos amigos de sindicato e de partido. Porque a política, desde tempos imemoriais, tem essa capacidade de afastar e aproximar pessoas.
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O que Lula não perdeu foi o respeito à democracia. Enquanto foi oposição, fez o papel da oposição. Às vezes dura, às vezes radical, mas nunca leviana, nunca mentirosa, nunca desleal, como tem sido a oposição ao seu governo. Tentam agora, os demo-tucanos, levar a eleição para os tribunais. Tentam, com o amparo do TSE, impugnar o registro da candidatura de Dilma Rousseff. Tentam, da forma mais suja, tirá-la do pleito. Tentam voltar ao poder através de um golpe, contrariando a vontade popular, jogando no lixo a história de seu próprio candidato, o ex-líder estudantil José Serra.
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É com a humildade e a sabedoria de Lula que Serra deveria encarar a sua derrota. Ganhar nem sempre significa vencer. Não vence quem ganha uma eleição na base do golpe. Se o presidenciável tucano tivesse qualquer apreço pela democracia – como teve o ex-presidente Fernando Henrique, ao impedir que se tentasse o mesmo tipo de golpe contra Lula, em 2002 – saberia que o bem do País está acima de qualquer sigla partidária. E jamais se aproximaria daqueles que torturaram e assassinaram seus compatriotas durante a ditadura.
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Mas Serra não tem pudor em macular a própria história. A reunião com os militares no Clube da Aeronáutica (que contou com a presença do deplorável Jair Bolsonaro, milico e deputado ultraconservador que defende o assassinato de opositores), não explica tudo, mas é um indício do abandono em que se encontra a oposição: isolada, perdida, derrotada, não teve a dignidade de assumir o próprio fim e, como uma vivandeira de porta de quartel, foi pedir apoio àqueles que, por tradição, desprezam e pisoteiam a democracia.
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O encontro não seria nebuloso se a imprensa pudesse ter acompanhado a conversa. Mas Serra proibiu a entrada de jornalistas, criando um desnecessário e oportuno clima de suspense na reta final do pleito. Da reunião, contudo, vazaram algumas falas do candidato. Uma delas: o PT estaria implantando uma “ditadura sindicalista” no Brasil. Com este mesmíssimo discurso, a direita e parte da classe média apoiaram o golpe contra o governo de João Goulart, em 1964.
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Que ninguém se engane quanto às pretensões da direita: as insinuações abjetas contra o passado de Dilma; as acusações infundadas, sem provas, de que ela e o PT estariam envolvidos na quebra do sigilo bancário da filha de Serra; as denúncias sem pé nem cabeça que a mídia trata de repercutir como se fossem verdades absolutas... Tudo faz parte de um plano muito bem arquitetado para que a candidata de Lula perca as eleições no tapetão. Na impossibilidade de ganhar nas urnas, tentarão ganhar no tribunal.
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Precisamos estar atentos, pois o momento é grave. Não creio que a candidatura de Dilma será impugnada, pois não há nada que possa incriminá-la na questão dos sigilos fiscais. Além disso, a própria história leva a crer que tudo não passa de uma armação ou de um caso de espionagem entre inimigos do próprio partido. Nada, absolutamente nada, leva ao nome de qualquer membro do governo neste factoide que estão querendo plantar com os objetivos mais escusos.
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Perder faz parte da vida e não é demérito algum. Mas quem perde a dignidade, perde duas vezes.
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Fiquemos de olhos bem abertos, pois a oposição pretende jogar o País numa guerra civil. De forma irresponsável, a direita quer provocar uma tragédia. A impugnação da candidatura de Dilma mergulharia o Brasil no caos, na barbárie, na guerra fratricida que abriria as condições para um novo golpe. É o que acontecerá se lograrem o seu intento. Repito: fiquemos alertas.

Publicado por Bruno Ribeiro

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