Poderia ser a escalação do ataque de um timinho mulambento de uma cidade poeirenta do interior do Brasil, desses que perdem até para o time dos postes.
Ou então um trio musical semi-anônimo, que defende uns trocados se apresentando em cirquinhos mambembes. em vilarejos que nem aparecem no mapa.
Não é.
Cacareco foi um rinoceronte do zoológico de São Paulo que lá pelos idos de 1959 ficou famoso ao receber uma votação espantosa para deputado federal. Teve votos suficientes para ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados.
Tião foi um macaco do zoológico do Rio de Janeiro, que por conta de uma brincadeira da turma do jornal de humor Casseta Popular (que depois deu origem à turma do Casseta & Planeta), obteve cerca de 400 mil votos e quase foi “eleito” prefeito do Rio de Janeiro em 1988.
Tiririca, bem Tiririca dispensa apresentações. Com seu impagável bordão “Pior do que ta não fica, vote Tiririca”, tornou-se uma das estrelas da campanha eleitoral de 2010. Projeções indicam que baterá na casa dos 900 mil votos e poderá sair das urnas como o deputado federal mais votado do país.
Assim como Cacareco e Tião, Tiririca significa o voto de protesto, uma espécie de resposta sacana do eleitor contra as sacanagens da política. Ou alguém que tenha mais do que dois neurônios vai votar em Tiririca por acreditar que ele será um bom deputado federal, ainda que, hipoteticamente, possa vir a sê-lo?
A diferença em relação ao rinoceronte Cacareco e ao macaco Tião, é que o palhaço Tiririca não apenas tomará posse, como sua votação ainda vai levar um monte de candidatos de seu partido, gente que de boba não tem nada, para Brasília.
Cacareco e Tião são do tempo da votação em papel. Seus votos eram considerados nulos, quase uma brincadeira inocente. Tiririca é um produto da era da urna eletrônica. Vai ganhar e botar o terno de posse, mesmo mantendo o nariz e a pose de palhaço, a rir de si mesmo e ao mesmo tempo rir de todos nós.
Numa relação de causa e efeito (não seria causa e defeito?), quanto mais a política se transforma num lamaçal, mais o eleitor fica propenso a optar pelo circo, ora mui bem representado por sua excelência o nobre Tiririca.
Ao se deixar de lado a discussão dos projetos para o país e multiplicar-se o festival de baixarias que contaminou essa reta final da eleição, cria-se o terreno fértil para a proliferação dos tiriricas, porque pior do que tá, quase sempre fica.
Quem é mesmo o palhaço?
Daniel Thame é jornalista, blogueiro e autor do livro Vassoura, editado pela Via Litterarum
Nenhum comentário:
Postar um comentário