Antigamente, o sonho de qualquer trabalhador brasileiro era
ter um emprego com a carteira
de trabalho assinada. Era sinônimo de segurança e garantia de que teria todas
as leis a seu favor. Atualmente, nota-se uma mudança em alguns setores menos
favorecidos da população, em especial nos estados do Norte e Nordeste. Hoje,
uma grande parcela de trabalhadores que são beneficiários do programa
governamental Bolsa Família não querem mais um emprego formal, pelo medo de
perder este benefício. O programa já faz parte de sua vida e o trabalhador,
agora, prefere um trabalho informal, sem registro em carteira.
Essa recusa se observa tanto entre os beneficiários do Bolsa
Família quanto entre os que querem entrar no programa. Na zona rural o problema
é maior e é comum a dificuldade em contratar mão de obra formal. De um lado, a
Delegacia do Trabalho tem lutado pelo trabalho formalizado e o registro em
carteira e, de outro, o trabalhador que foge deste amparo legal e prefere a
clandestinidade, ou mesmo o não trabalhar. Os sindicatos de produtores
rurais de vários estados relatam este fenômeno e acusam o seu crescimento ano a
ano.
O raciocínio é simples: se ganhamos sem trabalhar, para que
vamos trabalhar? Qual o incentivo do registro na carteira se, com isso,
perdemos benefícios? O mesmo ocorre com aposentadorias especiais, nas quais o
pessoal fica esperando o tempo passar para ganhar sua aposentadoria especial
pela falta de emprego. Se você oferece um emprego formal,
ele não é aceito pelo candidato de forma alguma, pois isso coloca em risco sua
condição de participante dos programas sociais.
Se o trabalhador tiver sua carteira assinada, perderá o
direito à aposentadoria especial, que é de 55 anos para as mulheres e 60 anos
para os homens. A própria Previdência Social sabe disto, mas não pode fazer
nada, pois esta é a lei vigente. O mesmo acontece na construção civil em Mato
Grosso do Sul, onde os peões de obras não querem mais um trabalho formalizado.
Trabalhando “por fora”, sem registros, eles ganham a Bolsa Família e têm
direito a aposentadoria especial.
O Governo está ano a ano levando o País a essa situação e
criando uma dependência monstruosa desse esquema. É óbvio que esta parcela da
população não quer nenhuma mudança que possa colocar em risco essa situação,
daí a facilidade dos governantes se perpetuarem no poder. Na verdade estamos
criando um sistema patriarcal no País. Um pouco de comida, um pouco de circo de
vez em quando, uma aposentadoria especial para quem nunca trabalhou e assim
vamos construindo um Brasil paralelo de miseráveis.
Algumas mães já deram testemunhos de que não pretendem nunca
mais trabalhar, pois o dinheiro dos programas sociais permite que elas fiquem em casa
cuidando dos filhos. Se estivessem trabalhando, quem iria cuidar deles? Os
dados oficiais do Caged (Cadastro Geral do Emprego e Desemprego) do Ministério
do Trabalho mostram que a geração de empregos formais vem caindo ano a ano. Ele
só não mostra que, na verdade, muitos trabalhadores não querem mais o trabalho
formal. Este é o Brasil que muitos não conhecem.
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