segunda-feira, 20 de maio de 2013

O Brasil que não quer carteira assinada


Antigamente, o sonho de qualquer trabalhador brasileiro era ter um emprego com a  carteira de trabalho assinada. Era sinônimo de segurança e garantia de que teria todas as leis a seu favor. Atualmente, nota-se uma mudança em alguns setores menos favorecidos da população, em especial nos estados do Norte e Nordeste. Hoje, uma grande parcela de trabalhadores que são beneficiários do programa governamental Bolsa Família não querem mais um emprego formal, pelo medo de perder este benefício. O programa já faz parte de sua vida e o trabalhador, agora, prefere um trabalho informal, sem registro em carteira. 
Essa recusa se observa tanto entre os beneficiários do Bolsa Família quanto entre os que querem entrar no programa. Na zona rural o problema é maior e é comum a dificuldade em contratar mão de obra formal. De um lado, a Delegacia do Trabalho tem lutado pelo trabalho formalizado e o registro em carteira e, de outro, o trabalhador que foge deste amparo legal e prefere a clandestinidade, ou mesmo o não trabalhar. Os sindicatos de produtores rurais de vários estados relatam este fenômeno e acusam o seu crescimento ano a ano.
O raciocínio é simples: se ganhamos sem trabalhar, para que vamos trabalhar? Qual o incentivo do registro na carteira se, com isso, perdemos benefícios? O mesmo ocorre com aposentadorias especiais, nas quais o pessoal fica esperando o tempo passar para ganhar sua aposentadoria especial pela falta de emprego. Se você oferece um emprego formal, ele não é aceito pelo candidato de forma alguma, pois isso coloca em risco sua condição de participante dos programas sociais. 
Se o trabalhador tiver sua carteira assinada, perderá o direito à aposentadoria especial, que é de 55 anos para as mulheres e 60 anos para os homens. A própria Previdência Social sabe disto, mas não pode fazer nada, pois esta é a lei vigente. O mesmo acontece na construção civil em Mato Grosso do Sul, onde os peões de obras não querem mais um trabalho formalizado. Trabalhando “por fora”, sem registros, eles ganham a Bolsa Família e têm direito a aposentadoria especial.
O Governo está ano a ano levando o País a essa situação e criando uma dependência monstruosa desse esquema. É óbvio que esta parcela da população não quer nenhuma mudança que possa colocar em risco essa situação, daí a facilidade dos governantes se perpetuarem no poder. Na verdade estamos criando um sistema patriarcal no País. Um pouco de comida, um pouco de circo de vez em quando, uma aposentadoria especial para quem nunca trabalhou e assim vamos construindo um Brasil paralelo de miseráveis.
Algumas mães já deram testemunhos de que não pretendem nunca mais trabalhar, pois o dinheiro dos programas sociais permite que elas fiquem em casa cuidando dos filhos. Se estivessem trabalhando, quem iria cuidar deles? Os dados oficiais do Caged (Cadastro Geral do Emprego e Desemprego) do Ministério do Trabalho mostram que a geração de empregos formais vem caindo ano a ano. Ele só não mostra que, na verdade, muitos trabalhadores não querem mais o trabalho formal. Este é o Brasil que muitos não conhecem.

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