Em 1557, o Governo Geral Duarte da Costa doou ao seu filho, D. Álvaro da Costa, uma sesmaria localizada entre o rio Paraguaçu e o rio Jaguaripe. Destas terras, quando foram divididas, Antonio Adorno foi beneficiado com um lote onde fora construído o primeiro núcleo de engenho que daria origem à cidade da Cachoeira. Normalmente eram beneficiados com a doação de uma sesmaria, aventureiros que se destacavam nos combates aos índios, ou seja, em guerras justas contra as tribos bravias como eles as denominavam. Por volta de 1595, Álvaro Rodrigues Adorno, filho de Antonio Dias Adorno, se instalou no sitio da atua cidade e estabeleceu amizade com os índios.
Nas lutas contra os silvícolas que habitavam o litoral do Recôncavo, Gaspar Rodrigues Adorno foi recompensado com uma sesmaria com quatro léguas de terras que se limitava entre riachos Pitanga e Caquende. Aí foi iniciada a plantação da cana- de - açúcar que viria constituir-se como principal produto deste gênero. Entre 1612 e 1621, Gaspar Rodrigues Adorno se estabeleceu no local que seria núcleo inicial da cidade da Cachoeira. Ali já tinha uma pequena povoação com o engenho de açúcar, uma senzala e uma pequena ermida de N. S. do Rosário (hoje capela de N. S. D’Ajuda). Em 1654, João Rodrigues Adorno se fixou no local reconstruindo a primitiva residência forte e ermida.
Ciclos de desenvolvimento
Os Adornos passaram a desenvolver a região. Construíram ao lado do riacho Pitanga outro engenho de açúcar, com casa grande e alambique. O numero de moradores cresceu substancialmente, por isso foi criada a freguesia de N. S. do Rosário em 1698. A vila só fora criada mais tarde, pela Carta Régia de 27 de dezembro de 1693, com nome de Vila de N. S. do Porto da Cachoeira, cuja instalação se deu a 29 de janeiro de 1698, pelo desembargador Estevão Ferraz de Campos. Quando Cachoeira foi convertida em freguesia, o seu porto já era considerado um dos mais movimentados da capitania da Bahia, depois província. O movimento dos fardos de açúcar, fez com que Cachoeira se tornasse uma das regiões mais prósperas do País. Diversos engenhos de açúcar circundavam o sitio. Territorialmente Cachoeira envolvia as freguesias se S. Pedro da Muritiba; Senhor Deus Menino de S. Félix; Nossa Senhora do Outeiro Redondo; N. S. do Bom Sucesso da Cruz das Almas; Curralinho (atual Castro Alves); S. Tiago do Iguape; N. S. da Conceição da Feira; Santo Estevão do Jacuípe; São Gonçalo dos Campos; Feira de Santana, além da freguesia do Rosário, que a fama da sua prosperidade atravessou o Atlântico. Em 1756, o rei de Portugal instituiu uma vultosa taxa de 1 conto e 800 mil réis, para ajudar a reconstrução de Lisboa, em virtude de um terremoto que quase destruiu a cidade.
Participação no processo da Independência do Brasil
Com a eclosão da Revolução Liberal do Porto, em Portugal, em 1820, o Brasil ficou na iminência de ser recolonizado. A Revolução do Porto criou em Portugal uma Monarquia Constitucional – o parlamento, que se converteu a órgão supremo da administração da metrópole e suas colônias.
Foram as cortes que promoveram as ações da Revolução do Porto: o retorno de D. João VI e a recolonização do Brasil. Dessas transformações algumas atingiram a estrutura do Estado Colonial. No Brasil, criaram nas províncias as Juntas Provisórias, em substituição aos antigos governadores coloniais. A partir de 1821, os portugueses trataram de potencializar as províncias mais estratégicas do Brasil a fim de cumprir os objetivos da sua malfada revolução. Para isto, as cortes de Lisboa, por meio de uma carta régia, em 15 de fevereiro de 1822, substituíram o comando das Armas da Bahia. No lugar de Manoel Pedro Freitas Guimarães, eles colocaram o brigadeiro português Luis Inácio Madeira Melo. Apesar do descontentamento dos baianos, os portugueses não mediram esforços para novamente deixar o Brasil na condição de colônia. Passaram a perseguir os brasileiros, a espancar e até confiscar seus bens. Depois de tantas humilhações os oficiais brasileiros fugiram das tropas lusas para vilas do Recôncavo, especialmente a Vila N. S. do Rosário do Porto da Cachoeira.
A então Vila da Cachoeira da época da independência se converteu no centro vivo das atividades libertadoras dos baianos, e no ponto estratégico, por isso escolhida para sede do Governo legal, de onde partiu todo movimento militar, inicialmente organizado pelo coronel Garcia Pacheco e o tenente coronel Rodrigo Antonio Falcão Brandão, depois Barão de Belém. Mais tarde este movimento viria se organizar num comando único, sob batuta do general Labatut.
Junto aos proprietários de engenhos e escravos, os oficiais baianos tratavam de inventariar as armas e munições, além de organizar tropas patrióticas a fim de barrar as perigosas intenções portuguesas. Foi assim que as tropas cachoeiranas, que estavam em Belém e no Iguape, se reuniram ao amanhecer do dia 25 de junho de 1822, na Praça da Regeneração (atual Aclamação). Nessa ocasião, Antonio Pereira Rebouças convidou o povo para assistir à sessão da Câmara que aclamaria D. Pedro. As tropas ocuparam a praça, a Rua da Matriz e adjacências. Porém, às 9 horas houve o Te Deum na Matriz, quando os cachoeiranos aclamaram D. Pedro como Regente do Brasil, e passaram a comemorar dando tiros de festim para o alto.
Madeira de Melo havia mandado uma canhoneira subir o rio Paraguaçu para observar a movimentação da Vila. Este navio, que estava ancorado em frente da Praça da Regeneração, ouvindo os tiros de festim das comemorações do Te Deum, imaginou que estivesse sendo atacado e respondeu com tiros de canhão, forçando a dispersão dos cachoeiranos. Organizados ao longo do leito do rio, os cachoeiranos reagiram em forma de guerrilha ao ataque luso. Três dias depois o comandante do navio português mandou subir uma bandeira branca no mastro. Os que ainda estavam vivos se renderam. Foi com esta vitoria que a Vila de Cachoeira promoveu a união das vilas do Recôncavo (Santo Amaro, Maragogipe, Nazaré das Farinhas, Jaguaripe) e o bloqueio da Baía de Todos os Santos, estratégia fundamental para definição da guerra. Felizmente, saímos vitoriosos.
Quem há de se esquecer da heroína Maria Quitéria de Jesus Medeiros, que, cheia de ardor e coragem, se travestiu de homem, e estimulada pelo patriotismo, foi lutar contra tropas lusas na Baía de Todos os Santos? Essa luta envolveu muitos baianos, em especial os cachoeiranos. Os escravos também participaram desta epopéia. O general Labatut solicitou as câmaras das cilas do Recôncavo à liberação de escravos dos engenhos. Apesar da navegação destas, Labatut invadiu alguns engenhos, recrutou escravos e formou verdadeiros pelotões negros, que para alguns observadores foi à formação de um terceiro partido- o Partido Negro. No campo discursivo ideológico os oradores patrióticos criaram uma metáfora em que se representava o Brasil escravo de Portugal. Os escravos associaram a sua condição à do Brasil.
A entrada do Exército Libertador em Salvador foi episodio simbólico, pois os portugueses já estavam derrotados bem antes disso. É importante lembrar que o sargento-mór de cavalaria José Joaquim de Almeida e Arnizáu estavam presentes na retomada da cidade do Salvador. Eles percorreram os caminhos da Liberdade, antiga estrada das boiadas.
Este movimento insurrecional iniciado em Cachoeira, foi consolidado em 2 de julho de 1823, quando os baianos evitaram definitivamente qualquer tentativa de ataque europeu, para dominar o Brasil. O fantasma da recolonização estava afastado- era o alivio. O povo ganhou.
A lei Provincial nº 43 de 13 de março de 1837, considerada o dia 25 de junho como uma data de Festividade Nacional. É essa mesma lei que dá o titulo honorifico de Cidade Heróica a Cachoeira.
Uma lei de 19 de junho de 1919 da Câmara dos Deputados, deixou consignada certa quantia de capitais para criação do monumento ao 25 de junho. A lei nº 1354 de 13 de agosto de 1919, autorizou ao Governo do Estado a auxiliar na criação do justo monumento à data magna de Cachoeira.
Revoltas e elevação a cidade
Em 19 de fevereiro de 1832, o capitão e Juiz de Paz, Guanais Mineiro, levantaram o Arraial de São Felix e tentou convocar a Câmara Municipal da Vila da Cachoeira seguida pelos partidários. Reunida a Câmara proclamaram a Federação da Província da Bahia e formaram um Governo Provisório. Eram os ares do liberalismo tomando corpo na Bahia. A idéia de Republica começava a ganhar força.
Informado sobre o que se passava em São Félix e Cachoeira, o Presidente da Província, Honorato de Barros Paim, conseguiu apoios importantes produtores do Recôncavo e sitiou Cachoeira por terra e pelo rio Paraguaçu. Este levante durou quatro dias. O capitão Guanais Mineiro foi preso e remetido para o Forte do Mar, mas a idéia da Republica continuou nos corações e mentes dos brasileiros. Cachoeira continuava fiel ao Império, ou melhor, ao Governo Regencial.
Em 1836 já se articulava uma nova revolta na Bahia. A idéia era construir um Estado Federativo. Era a semente da revolta que ficou conhecida na historia como a Sabinada. Este movimento foi liderado por Sabino da Rocha Vieira, medico, professor da Faculdade de Medicina, político e jornalista, que, na verdade era um liberal-federalista, partidário da ampla autonomia das províncias. Considerava insuficiente a solução encontrada com o Ato Adicional de 1834, que alterava a Constituição outorgada em 1824 e buscava conciliar as tendências centralizadoras dos moderados com as descentralizadoras dos exaltados. Inclinava-se pela Republica Federativa. A campanha fora iniciada em julho de 1837 pelo seu jornal Novo Diário da Bahia.
Justamente por ter desenvolvido economicamente, ter iniciado e participado ativamente das guerras da independência do Brasil, na Bahia, e também ter mantido a fidelidade ao regime monárquico, quando da Revolução do Capitão Guanais Mineiro, Cachoeira foi premiada com a elevação a condição de cidade mediante a Lei Providencial nº 43 de 13 de março de 1837, sancionada pelo Presidente da Província Francisco de Souza Paraíso. Esta mesma Lei nº 43 também concedeu o titulo honorifico de Cidade Heróica a essa valente cidade, que iniciou as lutas que consolidaram a Estado brasileiro.
A revolução propriamente dita ocorreu ao entardecer do dia 7 de novembro de 1837, com o levante dos oficias do forte de São Pedro, em Salvador. Na manhã seguinte do dia 8 o Presidente da Província, Francisco de Sousa Paraíso cedeu, permitindo aos revolucionários ocupar a cidade, reunir a Câmara e proclamar a Bahia como um estado livre e independente. Formou-se um governo provisório, cabendo a presidência ao comerciante João Carneiro da Silva Rego. A Sabinada eclodiu na cidade de Salvador. O Presidente da Província, Francisco de Sousa Paraíso se refugiou no brigue 3 de maio na Baía de Todos os Santos. Foi quando o político e produtor Francisco Gonçalves Martins (futuro Visconde de São Lourenço), se articulou a outros senhores de engenho, reuniu homens em armas no Recôncavo, principalmente em Cachoeira, e convenceu o Presidente Sousa Paraíso de reação. Foi assim que novamente os cachoeiranos reunidos conseguiram derrotar os sabinos, cercando a cidade do Salvador. Evitou que o Brasil fosse fragmentado, e garantiu a sua unidade territorial. Mas o sonho de uma Republica Federativa e Democrática não morreu.
Cachoeira continuou sua saga, sempre prosperando. Depois do apogeu do açúcar veio a fase da cultura do fumo. Diversas fábricas foram implantadas no Recôncavo, especialmente em Cachoeira, a exemplo da Suerdieck e a Leitalves
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