Numa eleição apertada, eventos irrelevantes para o processo político, mas que melhoram a disposição de espírito do eleitorado, podem ser decisivos. De acordo com estudo realizado nos Estados Unidos comparando resultados de jogos de futebol americano com resultados eleitorais entre 1964 e 2008, uma vitória do time “da casa” nos 10 dias anteriores ao pleito dá ao candidato da situação uma vantagem média de 1,6 ponto porcentual.
Parece pouco, mas não é. Em termos de eleições brasileiras, 1,6 ponto pode ser a diferença entre haver ou não um segundo turno. Para reduzir o risco de a associação ser fruto de mera coincidência, os autores do trabalho (publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, a PNAS) compararam resultados eleitorais também com os de jogos realizados após os pleitos, e não viram efeito nenhum.
Mesmo levando-se em conta diferença culturais entre os povos, não parece haver muitos motivos para duvidar de que o resultado tenha alguma aplicação a democracias em geral. No caso brasileiro, onde o voto é obrigatório, desconfio que a correlação possa ser até maior. O eleitor americano, afinal, tem que tomar duas decisões: votar ou não e, no caso afirmativo, em quem; para o brasileiro, a primeira decisão já foi tomada a priori.
A pesquisa não foi realizada por cientistas políticos, mas por economistas — o objetivo era avaliar o impacto de “eventos irrelevantes” na tomada de decisões. A associação entre esporte e política foi escolhida porque os resultados de jogos “(i) afetam de forma significativa o bem-estar das pessoas, seja diretamente ou por contágio em redes sociais, e (ii) não têm relação com os negócios públicos. Nenhuma ação governamental seria esperada em respsta ao resultados dos jogos e o público quse que certamente não os relacionaria à performance do candidato da situação“, escrevem os autores.
Eles ressaltam ainda que o efeito está mais ligado ao impacto emocional direto da vitória do time da casa do que à força da agremiação — é o clima de alegria proporcionado pela vitória recente, e não a satisfação de saber que o time está bem, o fator principal aqui.
Os resultados sugerem uma perspectiva sombria para a capacidade humana de tomar decisões racionais, até mesmo em questões críticas como o processo eleitoral, mas nem tudo são trevas.
Os autores determinaram também que, quando as pessoas tomam consciência da causa de seu estado de espírito — por exemplo, quando o pesquisador, antes de perguntar se o eleitor aprova ou não o governo, menciona explicitamente a vitória recente do time local — o efeito estatístico pró-situação desaparece.
“Deslocando as considerações subconscientes para o primeiro plano, a preparação experimental permitiu que as pessoas separassem a mudança de humor induzida pela sorte do time do objeto político em questão” , diz o artigo na PNAS.
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