O governador Jaques Wagner desenvove um grande esforço para estruturar a sua chapa com dois ex-carlistas nas vagas do Senado, Otto Alencar e César Borges. Ao tempo em que desenvolveu a tese de que ter sido carlista não é uma mancha que fica para sempre "na cabeça dos que seguiram o grupo". Na verdade, o esforço do governador se dirige aos petistas para que aceitem, sem retaliação eleitoral, a chapa que pretende formar, praticamente anunciada, mas, ainda, não fechada porque não há resposta do senador César Borges, que, dos três que representam a Bahia, disparadamente é o mais atuante. Acontece que a tese do governador, que equivale a uma espécie de "Bahia sem ideologia", não encontra, até aqui, campo fértil entre os petistas. Pelo contrário, há fortes reações, como se observa em diversos quadros tradicionais do partido, entre eles Zezéu Ribeiro, que lutou praticamente desde a origem do PT, candidatando-se a tudo sabendo, antecipadamente, que seria derrotado, mas no intuito de ajudar a consolidação da legenda. Outro é o novo deputado (era suplente) Emiliano José, defensor da candidatura de Waldir Pires, de fato um excelente quadro das esquerdas da Bahia, com larga trajetória na política do estado. Está em seu currículo, entre outras atividades, ter sido, no início dos anos 60, candidato a governador da Bahia pelo PSD (extinto) perdendo para Lomanto Júnior por meros 33 mil votos (se não estou enganado), candidato ao Senado ao lado de Roberto Santos (ambos derrotados), governador eleito em 1986, batendo o carlismo, senador derrotado por Walderck Ornellas (?) por meros três mil votos (derrota jamais digerida e, supostamente, registrada no mapismo do então TRE), deputado federal e ministro duas vezes, da Previdência Social (indicado por Tancredo Neves) e da Defesa, com Lula, depois de instalar a CGU, que hoje tem à frente o baiano, competentíssimo, Jorge Hage. Foi procurador-geral da República de Jango e exilado, primeiro no Uruguai e depois na França. Bagagem como essa ninguém tem na esquerda baiana. Emiliano José, no entanto, garimpa seus votos no waldirismo. Mas, há muitos outros petistas dispostos a não aceitar uma chapa ex-carlista para o Senado. O movimento nesse sentido cresceu nos últimos dias. O governador Jaques Wagner tem, por consequência, uma missão a desempenhar que é convencer que o tempo não é estático, e, sim, dinâmico, assim como a dialética hegeliana, e não se pode marcar as pessoas com ferro em brasa como se marca gado. Trata-se de um problema, e sério, para o governador remover e convencer seus possíveis candidatos ao Senado que não estarão sujeitos à retaliação eleitoral dos petistas. A "Bahia sem ideologia" ainda não vingou. Para mim, pessoalmente, os carlistas já não existem, a não ser alguns notórios, mas há de ser lembrado como o é o Holocausto para que jamais volte e para que se tenha na memória e na consciência os males que causou, o chicote que utilizou contra seus adversários e a dicotomia que estabeleceu na Bahia, dividindo-a para obsequiar seus seguidores e punir, com os rigores pessoais e do Estado, aqueles que não concordavam com os métodos políticos brucutus que foram usados a larga. Wagner, enfim, tem um desafio à frente.
Fonte: Samuel Celestino
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