domingo, 4 de março de 2012
POLITICA : Gays Candidatos
Não basta ser gay, tem que ter proposta. O lema, citado pelo presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis, é o ponto de partida para pelo menos 110 militantes homossexuais que são pré-candidatos a vereador nas eleições deste ano. A associação listou filiados de 19 partidos que pretendem concorrer em mais de 70 municípios de 23 Estados. Em 2008, foram 80 candidatos, com seis vereadores eleitos.
Os pré-candidatos não buscaram apenas legendas de bandeiras libertárias, como o PV. Há filiados a siglas conservadoras como o PR do senador evangélico Magno Malta (ES), que no ano passado ameaçou renunciar se o Congresso aprovasse a lei anti-homofobia, com o argumento de que o projeto de lei estimula "a criação de um terceiro sexo".
"O senador Magno Malta e eu nos damos muito bem. Ele elogia minha atuação, já me visitou aqui na cidade. Acho que um dia ele vai entender melhor o nosso movimento", diz a travesti Moa Sélia, que disputará o terceiro mandato de vereadora no município capixaba de Nova Venécia. Moa já foi presidente da Câmara Municipal e preside o PR municipal. "Aos poucos, a gente vai se impondo perante a sociedade e até no meio político" diz ela, eleita pela primeira vez com o slogan "a diferença que faz".
Segundo Moa, o PR ainda discute a possibilidade de lançá-la candidata à prefeitura. "Vou sempre pregar o reconhecimento dos LGBT, mas minha primeira bandeira é a moralização, o combate à corrupção. Trabalhar a questão LGBT no interior depende de Brasília. Não adianta criar leis municipais se não tiver respaldo no Congresso."
Eclético. Assim como Moa, o candidato a vereador Sillvyo Luccio Nóbrega, da pequena cidade de Pacatuba, no Ceará, transexual, foi acolhido por uma legenda conservadora, o PSDC, democrata cristão. "O partido não tem nada a ver com minha plataforma, mas, no meu município, é aberto, eclético e eu faço parte do diretório municipal", afirma. Uma das bandeiras do ativista de 48 anos é o acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) de pessoas do sexo feminino que, como Sillvyo, gostariam de fazer a cirurgia para assumir o sexo masculino. "Essas cirurgias praticamente não acontecem, não existem equipes multidisciplinares", lamenta. "Ter um amigo gay é bem humorado, ter uma amiga lésbica é ser sem preconceito. Mas ter um amigo transexual masculino, gestor público e candidato a vereador é muito forte. Não importa o número de votos. O importante é que sejamos candidatos e nos tornemos visíveis", diz Sillvyo.
Presidente da Diversidade Tucana, grupo que reúne militantes e simpatizantes da causa gay no PSDB, o funcionário público Marcos Fernandes disputa uma vaga na Câmara Municipal paulistana. É correligionário do presidente da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso, deputado João Campos (GO), que nas últimas semanas liderou a reação à ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci, defensora da descriminalização do aborto, e ao ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, católico fervoroso, que defendeu a ofensiva de comunicação do governo na guerra ideológica contra os evangélicos e sua influência na nova classe média.
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