quinta-feira, 22 de março de 2012

A Bahia sem ministros: fraqueza ou um novo tempo?

A Bahia só tem no Ministério de Dilma o ministro dos Transportes, Paulo Passos, que não tem vinculações políticas e por isso sequer é lembrado. É a primeira vez na história que isso acontece. Wagner diz que prefere obras. É fraqueza ou evolução? Diz o governador Jaques Wagner que a rigor, não indicou nenhum ministro para o Ministério de Dilma. Prefere ter obras a ficar correndo atrás de cargos. Mário Negromonte, o das Cidades, que caiu em janeiro, era do PP. Ele foi ouvido, deu o ok, mas não teve ingerência direta. Afonso Florence, do Desenvolvimento Agrário, foi indicação da DS, a Democracia Socialista, uma das tendências do PT. Também foi ouvido, deu o ok, e só. Idem, idem com Luiza Bairros, da Igualdade Racial, que era secretária na Bahia, obra do Movimento Negro. E por fim a manutenção de José Sérgio Gabrielli na Petrobras, foi obra de Lula. Deles, ainda na ativa, só resta Luiza, que balança, mais para cair (Lula já até teria indicado o senador Paulo Paim (RS) para substituí-la. E pelo que está posto, se cair, caiu. Noutras palavras, a distribuição dos cargos privilegiou critérios partidários e não da territorialidade, da regionalização. Nessa linha, Wagner culpa o PT. Diz que embora o Nordeste tenha dado disparadamente a mais expressiva vitória regional a Dilma, com mais de 70% dos votos, o partido dele não levou em consideração as suas ponderações de governador do maior Estado do Brasil governado pelos petistas, ainda por cima nordestino. José Sarney, que é do Maranhão e do PMDB, indicou dois ministros. Eduardo Campos de Pernambuco e do PSB, também indicou dois. E ele próprio, que confessa não ter lá tanto apetite assim para perder tempo brigando por cargos, ficou sem nenhum. Na tese de Wagner, melhor ser amiga da presidente e relacionar-se bem com todo o governo do que disputar espaços segmentados. Até porque, diz ele, um ministro sério e responsável administra para o país e inteiro e não pauta suas ações pelo privilégio aos seus estados de origem. Wagner e seus aliados evocam a experiência de Geddel no Ministério da Integração para legitimar a tese. Saiu bombardeado de acusações de ter privilegiado a Bahia. A do sucessor dele, o pernambucano Fernando Bezerra, também. É acuado de denúncias de beneficiar Pernambuco em detrimento dos demais. Em suma, por essa tese, nomear ministro é um prestígio relativo. Não é lá tão grande negócio assim. E o fato da Bahia estar hoje praticamente sem nenhuma representação ministerial, é algo a lamentar, mas coisa de segunda categoria se no contexto geral tudo flui bem para o Estado. Argumento lógico, certo? Como construção de um discurso de defesa, sim. Mas é só. De resto, a única coisa que fica é a impressão de fraqueza, embora Wagner diga que é o jeito dele, uma nova forma de fazer política. O OUTRO LADO 1 – Se os critérios são partidários, Wagner mostrou que, ou está sem prestígio entre os seus colegas de partido, apesar de ser governador do maior Estado do Brasil governado pelo PT. Não deu murros na mesa porque não tem apetite para tais práticas, mas está rodeado de gulosos, que engoliram os cargos e ele junto. 2 – Se a questão é a amizade com Dilma, que o faz relacionar-se bem com o conjunto do governo, não parece que a Bahia tenha algum tratamento diferenciado pelo fato de assim ser. Pelo contrário. Alguns dos projetos do Estado parecem emperrados, a exemplo dos da Copa. O metrô de Salvador ainda está longe de sair do papel, apesar da Copa estar cada vez mais próxima. A Estação Marítima do Porto de Salvador está emperrada. E a ponte Salvador-Itaparica, sequer entrou no papel. As circunstâncias revelam que há problemas, lá ou cá ou lá e cá. 3 – Se o Ministério não tem baianos, tem alguém com vínculos políticos noutros pontos do país. De algum lugar o ministro tem que ser. E se os outros tanto brigam para fazer ministros, qual será a causa? É evidente que o trânsito político é facilitado não só para as grandes demandas, mas também para as menores, a dos municípios. Ademais, há o caráter simbólico da representação. Dos ministérios sempre brotam líderes que se credenciam como personalidades respeitáveis, aptas a gerir assuntos macros. O DISCURSO DA COMPENSAÇÃO A senadora Lídice da Mata já subiu à tribuna do Senado para pedir compensações pela falta de representação ministerial. Quer a ampliação dos investimentos no Estado, o mesmo discurso do também senador Walter Pinheiro e do deputado Amaury Teixeira, ambos do PT. Isso ocorre justamente num momento em que Dilma enfrenta problemas políticos no Congresso por motivos similares. O PMDB reclamando que o PT tem tratamento privilegiado, o PR, informado de que não mais teria o Ministério dos Transportes depois de ter apresentado uma lista de quatro nomes, todos eles vetados (incluso César Borges, ex-senador baiano), anunciando que está na oposição. Por isso ou aquilo o cenário é bom para o discurso das compensações. Mas nada indica que seja algo a ser levado tão a sério assim. Afinal, se o PR rompeu porque o partido foi preterido, os partidos de Lídice, Pinheiro e Amaury vão bem. O critério da escolha não é estadual, mas como a Bahia dá sinais de fraqueza na representação ministerial em todos os partidos, convém construir um discurso para compensar o fato que o baiano não consegue entender. E é difícil mesmo. PAULO PASSOS, O BAIANO Mário Negromonte não é baiano. É pernambucano, mas construiu sua vida de empresário do ramo da construção e de político na Bahia, nas bandas de Paulo Afonso. Então, virou baiano. Luiza Bairros não é baiana, é gaúcha. Mas radicou-se na Bahia e emergiu para a Secretaria da Igualdade Racial indicada por movimentos negros baianos depois de ter passado pela secretaria similar do governo da Bahia, na era Wagner. Em suma, esse negócio de nascer num lugar e fazer história noutro é normal. É da terra quem nela mora e vive o dia a dia, as angústias, as aspirações e alegrias dela. Por esse viés, o próprio Jaques Wagner é o maior exemplo. É carioca, mas fez a história dele na Bahia. Negromonte, Luiza e Wagner têm em comum o fato de terem construído suas trajetórias políticas na Bahia. Buscaram e conquistaram representações em mandatos ou cargos a partir da militância partidária, em várias vertentes. A Bahia tem um único ministro hoje, nascido no seu território, com familiares baianos aos quais visita com freqüência. Só não fez carreira política, mas chegou lá. É Paulo Sérgio Passos, dos Transportes. Na época em que Alfredo Nascimento das as cartas na pasta, já haviam dois grupos, o de Alfredo e o de Paulo. Um, o de Alfredo, o reino do mal, sujeito a toda sorte de influências políticas que quase sempre mandam o interesse público às favas para distribuir obras conforme as influências dos seus apaniguados. O outro, o de Paulo, um funcionário de carreira do antigo DNER, atual DNIT, já aposentado que preferiu permanecer no serviço público, que marcou a vida pela correção nos atos praticados. Ele foi indicado por Dilma, que o conhecia, para substituir Alfredo. Ninguém, nem na Bahia e nem fora, o festeja. Aliás, os empresários gostam de tratar com ele. É a certeza de que não serão obrigados a pagar propinas. É o único baiano no Ministério. Como não é político, dele a única coisa que querem, é a vaga. Infelizmente é assim que a banda toca. FONTE: NOTÍCIAS DA BAHIA

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