quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Pedofilia: quando o abuso acontece dentro de casa



A criança perde a fome, o sono, não conversa, não brinca. Vive amedrontada e um toque ou carinho é rapidamente rejeitado. Isolados, esses comportamentos podem não dizer muito, mas se você percebe uma mudança brusca de atitudes em seu filho, sem nada que justifique, atenção. Ele pode ser vítima de abuso sexual.

Quando se fala em pedofilia o primeiro sentimento natural é a aversão, compaixão para com a vítima e o repúdio ao agressor. Mas, e quando esse crime acontece em casa, no ambiente familiar, praticado por aqueles que deveriam ser responsáveis pela criança?

''Quando o crime acontece além das fronteiras dos laços de sangue a revelação choca. Mas choca muito mais quando se descobre que foi o pai, um tio ou o avô. A criança não sabe em quem confiar e o segredo que o agressor lhe exige se torna um fardo maior que sua mente infantil possa processar'', explica a psicóloga Alessandra Rocha Santos Silva.

Alessandra traduz toda a fragilidade da criança contando que já atendeu crianças que usavam mais de uma calça para dormir, com medo de serem molestadas. ''Passavam a noite em estado de alerta. Muitos responsáveis se omitem em suas obrigações de romper com essa crueldade. Há quem exija silêncio dos filhos tanto quanto os agressores. O medo da reação do pedófilo e da exposição da família a um processo judicial cala os que deviam ser promotores do bem estar da criança. ''

Muitos casos de pedofilia familiar são denunciados por professores, tios, avós e vizinhos. Para essas pessoas os sinais são mais evidentes, as crianças fazem brincadeiras e desenhos com cunho sexual. As conversas das crianças repetem palavras ouvidas quando foram molestadas. Ao mesmo tempo, mostram grande interesse pelo assunto. Os mais novos expõem a prática da masturbação, pela estimulação que viveram.

''Hoje se fala muito da pedofilia que alguns padres católicos cometeram. Quando assim acontece é mais fácil de denunciar, porque é uma pessoa que não mora com a família e é fácil romper o convívio. Isso também quando o agressor é um vizinho ou desconhecido. Mas quando é o padrasto, a mãe que não quer perder o marido, ignora. Há também mulheres que foram vítimas, quando menores, e a posição da época, de pôr o dedo na frente da boca e exigir silêncio, permanece em suas consciências. Só quando se quebra esse ciclo é que a pessoa pode voltar a ser feliz'', explica Alessandra.

Denunciar é preciso.

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