sexta-feira, 12 de abril de 2013

Brasileiro não sabe votar, diz consultor político

Votar conscientemente deveria ser algo comum para o brasileiro. Mas, infelizmente, o que se vê é uma infinidade de eleitores escolhendo candidatos por diversos motivos que deveriam ser secundários. Porque é amigo, para “dar uma força”, muitas vezes se elege para cargos públicos alguém cujo eleitor nem mesmo sabe quais são as propostas de governo.
Apesar da leviandade com que é tratada, a política é um assunto sério. Ela define as Leis, que organizam a vida em sociedade. São os representantes do povo, eleitos democraticamente, que administram o dinheiro público, dentre diversas outras atribuições à eles conferidas.
Em entrevista exclusiva à Gazeta da Cidade, o consultor político Diego Pudo, da Associação Brasileira de Consultores Políticos (ABCOP), falou sobre a importância do voto consciente e os perigos que o “voto protesto” pode trazer para a sociedade.

Gazeta da Cidade: Em sua opinião, o brasileiro sabe votar?
Diego Pudo: Diria que, de modo geral, não. Obviamente que generalizar é um equívoco, mas, certamente, a grande massa brasileira ainda está longe de saber usar o voto de forma consciente. O primeiro ponto é o desinteresse por qualquer assunto que envolva políticos/política. Muito se deve ao pensamento relacionado à corrupção, com a qual o país sofre há anos, gerando a sensação do “todo político é igual” (para o lado negativo).
Esse conceito acaba influenciando em dois tipos de votos, muitas vezes: 1 – o voto “protesto”, no qual o eleitor vota em candidatos nos quais sabe que nada ou pouco farão pelo bem da coletividade (neste ponto eu faço questão de ressaltar que me refiro a casos como o do palhaço Tiririca, sub-celebridades, ex-esportistas e outras figuras que jamais desempenharam qualquer papel minimamente conectado com a política); 2 – o voto “egoísta”, que consiste votar no candidato mais próximo, que possa refletir numa eventual benfeitoria a seu favor, da forma que for.
Gazeta: O que levar em consideração ao escolher um candidato?
Diego: Saber votar não se resume apenas a ficar atento ao que ouve ou lê em época de campanha eleitoral. É preciso muito mais. Pesquisar notícias recentes e antigas sobre o candidato pelo qual se está propenso a votar é uma ação fundamental. Checar os dados públicos do candidato, procurar entender as propostas e, se possível, checar se as propostas das eleições passadas foram cumpridas, caso o candidato já tenha sido eleito em outras oportunidades. E o partido? Muitos eleitores garantem que não votam no partido, mas, sim, no candidato. Vale a pena dar poder a alguém que pertence a um grupo com passado sujo (ou pior ainda, o presente)? É necessário identificar se o político possui a “cara” do partido ou se o partido tem a “cara” do político. Votar bem dá um pouco mais de trabalho, mas traz resultados positivos.
Quanto às eleições 2012, que são somente municipais, essas dicas se tornam mais fáceis, já que o campo fica mais restrito. Com a internet, é possível também tentar uma aproximação com o candidato, enviando mensagens por e-mail e redes sociais. O candidato que se aventura no meio digital deve estar disponível para a interação que a internet exige. Se não for assim, estará “fazendo volume”.

Gazeta: Votar em um candidato porque é parente, amigo, vizinho… Pode prejudicar o município?
Diego: Votar apenas porque é, prejudica. Contudo, votar no parente, amigo, vizinho ou qualquer pessoa próxima, desde que seja confiável, que tenha boas propostas, que se sinta seguro do que almeja, é válido. O que não é aconselhável é votar em alguém próximo para ajudá-lo ou para se ajudar, individualmente. Parte-se do princípio de que devemos eleger um representante que esteja mais preparado intelectualmente, emocionalmente e ideologicamente do que nós mesmos ou, na pior das hipóteses, ao mesmo nível. Como dar liderança a alguém que julgamos piores do que nós? Por que tal pessoa iria merecer nos representar para suprir nossos anseios? O bem coletivo deve estar em primeiro lugar, já que a consequência é nosso próprio bem-estar.
Gazeta: A Lei Ficha Limpa (Lei Complementar nº 135/2010) já está valendo?
Diego: A Lei da Ficha Limpa está em vigor para as Eleições 2012, assim como já ocorreu nas eleições de 2010. A meu ver, é um dos grandes passos que demos na direção certa contra o despreparo, corrupção e injustiça social. Resta, contudo, que essa lei seja mais difundida à população, que deve tomar conhecimento das eventuais inelegibilidades por ela causada. É um verdadeiro filtro da política.
Gazeta: Quais os requisitos para ser um candidato?
Diego: São vários, mas simples. O cidadão deve estar em dia com as obrigações eleitorais (de votar e ser votado), ter domicilio na circunscrição e título eleitoral no município pelo qual pretende concorrer ao pleito, filiação partidária deferida e idade mínima para exercer as funções – 21 anos para prefeito e vice-prefeito e 18 anos para o cargo de vereança. Há alguns outros detalhes que podem validar ou não uma candidatura, mas estes aqui citados são os básicos.
Gazeta: Em sua opinião, a escolaridade do candidato deve influenciar a escolha do eleitor?
Diego: Em todos os sentidos. Um representante político deve ser a imagem do que buscará que o povo também seja. Portanto, possuir educação escolar – e não digo o mínimo grau, mas, sim, um grau razoável, que o possibilite ter ao menos ideais próprios – é um elemento básico para que o coloque num patamar aceitável na disputa. Um candidato cujo histórico não traz formação acadêmica dificilmente terá condições perante ao eleitor de afirmar que trará investimentos na área da educação, por exemplo. Seria, no mínimo, incoerente. Vemos isso até hoje nas brincadeiras que fazem com o Deputado Federal Tiririca, que, certamente, deixaria dúvidas ao liderar uma comissão de viés educacional.

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