Votar conscientemente deveria ser algo comum para o brasileiro. Mas,
infelizmente, o que se vê é uma infinidade de eleitores escolhendo
candidatos por diversos motivos que deveriam ser secundários. Porque é
amigo, para “dar uma força”, muitas vezes se elege para cargos públicos
alguém cujo eleitor nem mesmo sabe quais são as propostas de governo.
Apesar da leviandade com que é tratada, a política é um assunto
sério. Ela define as Leis, que organizam a vida em sociedade. São os
representantes do povo, eleitos democraticamente, que administram o
dinheiro público, dentre diversas outras atribuições à eles conferidas.
Em entrevista exclusiva à Gazeta da Cidade, o
consultor político Diego Pudo, da Associação Brasileira de Consultores
Políticos (ABCOP), falou sobre a importância do voto consciente e os
perigos que o “voto protesto” pode trazer para a sociedade.
Gazeta da Cidade: Em sua opinião, o brasileiro sabe votar?
Diego Pudo: Diria que, de modo geral, não.
Obviamente que generalizar é um equívoco, mas, certamente, a grande
massa brasileira ainda está longe de saber usar o voto de forma
consciente. O primeiro ponto é o desinteresse por qualquer assunto que
envolva políticos/política. Muito se deve ao pensamento relacionado à
corrupção, com a qual o país sofre há anos, gerando a sensação do “todo
político é igual” (para o lado negativo).
Esse conceito acaba influenciando em dois tipos de votos, muitas
vezes: 1 – o voto “protesto”, no qual o eleitor vota em candidatos nos
quais sabe que nada ou pouco farão pelo bem da coletividade (neste ponto
eu faço questão de ressaltar que me refiro a casos como o do palhaço
Tiririca, sub-celebridades, ex-esportistas e outras figuras que jamais
desempenharam qualquer papel minimamente conectado com a política); 2 – o
voto “egoísta”, que consiste votar no candidato mais próximo, que possa
refletir numa eventual benfeitoria a seu favor, da forma que for.
Gazeta: O que levar em consideração ao escolher um candidato?
Diego: Saber votar não se resume apenas a ficar
atento ao que ouve ou lê em época de campanha eleitoral. É preciso muito
mais. Pesquisar notícias recentes e antigas sobre o candidato pelo qual
se está propenso a votar é uma ação fundamental. Checar os dados
públicos do candidato, procurar entender as propostas e, se possível,
checar se as propostas das eleições passadas foram cumpridas, caso o
candidato já tenha sido eleito em outras oportunidades. E o partido?
Muitos eleitores garantem que não votam no partido, mas, sim, no
candidato. Vale a pena dar poder a alguém que pertence a um grupo com
passado sujo (ou pior ainda, o presente)? É necessário identificar se o
político possui a “cara” do partido ou se o partido tem a “cara” do
político. Votar bem dá um pouco mais de trabalho, mas traz resultados
positivos.
Quanto às eleições 2012, que são somente municipais, essas dicas se
tornam mais fáceis, já que o campo fica mais restrito. Com a internet, é
possível também tentar uma aproximação com o candidato, enviando
mensagens por e-mail e redes sociais. O candidato que se aventura no
meio digital deve estar disponível para a interação que a internet
exige. Se não for assim, estará “fazendo volume”.
Gazeta: Votar em um candidato porque é parente, amigo, vizinho… Pode prejudicar o município?
Diego: Votar apenas porque é, prejudica. Contudo,
votar no parente, amigo, vizinho ou qualquer pessoa próxima, desde que
seja confiável, que tenha boas propostas, que se sinta seguro do que
almeja, é válido. O que não é aconselhável é votar em alguém próximo
para ajudá-lo ou para se ajudar, individualmente. Parte-se do princípio
de que devemos eleger um representante que esteja mais preparado
intelectualmente, emocionalmente e ideologicamente do que nós mesmos ou,
na pior das hipóteses, ao mesmo nível. Como dar liderança a alguém que
julgamos piores do que nós? Por que tal pessoa iria merecer nos
representar para suprir nossos anseios? O bem coletivo deve estar em
primeiro lugar, já que a consequência é nosso próprio bem-estar.
Gazeta: A Lei Ficha Limpa (Lei Complementar nº 135/2010) já está valendo?
Diego: A Lei da Ficha Limpa está em vigor para as
Eleições 2012, assim como já ocorreu nas eleições de 2010. A meu ver, é
um dos grandes passos que demos na direção certa contra o despreparo,
corrupção e injustiça social. Resta, contudo, que essa lei seja mais
difundida à população, que deve tomar conhecimento das eventuais
inelegibilidades por ela causada. É um verdadeiro filtro da política.
Gazeta: Quais os requisitos para ser um candidato?
Diego: São vários, mas simples. O cidadão deve estar
em dia com as obrigações eleitorais (de votar e ser votado), ter
domicilio na circunscrição e título eleitoral no município pelo qual
pretende concorrer ao pleito, filiação partidária deferida e idade
mínima para exercer as funções – 21 anos para prefeito e vice-prefeito e
18 anos para o cargo de vereança. Há alguns outros detalhes que podem
validar ou não uma candidatura, mas estes aqui citados são os básicos.
Gazeta: Em sua opinião, a escolaridade do candidato deve influenciar a escolha do eleitor?
Diego: Em todos os sentidos. Um representante
político deve ser a imagem do que buscará que o povo também seja.
Portanto, possuir educação escolar – e não digo o mínimo grau, mas, sim,
um grau razoável, que o possibilite ter ao menos ideais próprios – é um
elemento básico para que o coloque num patamar aceitável na disputa. Um
candidato cujo histórico não traz formação acadêmica dificilmente terá
condições perante ao eleitor de afirmar que trará investimentos na área
da educação, por exemplo. Seria, no mínimo, incoerente. Vemos isso até
hoje nas brincadeiras que fazem com o Deputado Federal Tiririca, que,
certamente, deixaria dúvidas ao liderar uma comissão de viés
educacional.
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