segunda-feira, 10 de maio de 2010

Petuscos e tucaneiros


Muito se fala sobre o esvaziamento no debate político nesses últimos tempos. As razões variam, de acordo com o emissor. Uns acham que é resultado da falência de utopias e ideologias. Outros, fartos de tanta impunidade, apontam a total desesperança com a classe política. Num cenário que se vê mais semelhanças do que diferenças entre PT e PSDB, tudo se confunde na cabeça do chamado “eleitor médio” — ou do Homer Simpson brasileiro, se preferir. E lhe digo: todos estão cobertos de razão. Mas há um outro fator para o motim de novas ideias na política, que contribui para agravar ainda mais a situação. São os petuscos e tucaneiros. Outro dia, mencionei aqui essas duas bizarras criaturas da nossa fauna política, mas não expliquei exatamente onde fui buscar tais alcunhas. Antes de tudo, é bom que se diga: eles são diferentes de petistas e tucanos. Mesmo que defendam os mesmos partidos, petistas e tucanos sabem que sempre vai haver críticas — e eles saberão absorvê-las. Saberão também ponderar o outro lado e buscar o contraditório com argumentos, se for o caso. Infelizmente, petistas e tucanos são minoria e, se suas argumentações já não encontravam muito eco na sociedade, na internet são vigiados de perto pelos patrulheiros.

É aí que entram os petuscos e os tucaneiros. Como bárbaros com tacape à mão, atacam absolutamente tudo uns nos outros de forma cega e apaixonada. Miram o outro lado da cerca e, quando encontram algo suspeito, tiram frases do contexto, demandam explicações urgentes e exigem punições severas. Agora, quando a bomba estoura em seus currais, fazem o contrário: saem na defesa aguerrida de seus corruptos, alegam o golpismo e a perseguição política, evocam o benefício da dúvida e a falta de provas. Isso, além de ser de um mau-caratismo sem par, escancara a mentalidade totalitária dessas pessoas. Vê-se ali fragmentos do que há de pior já experimentado pela história, com perdigotos de fascismo, de stalinismo e até de nazismo voando para todos os lados. São pitbulls sem focinheiras, mordendo e disseminando a raiva. Não aceitam opiniões contrárias, não aceitam nada que vá contra suas cartilhas partidárias. É a futebolização da política — no pior dos sentidos —, com torcidas organizadas montando bunkers de patrulhamento ideológico, cerceando opiniões dissonantes. Esse copy-paste que fiz aí na ilustração acima, espelhando os personagens, não é mera coincidência. Petuscos e tucaneiros (esses nomes tão indissociáveis entre si) são assim mesmo: idênticos. E se o troll é aquele covarde que fica valente quando escondido pelo anonimato da web, petuscos e tucaneiros ficam ainda mais destemidos quando encontram seus nichos da blogosfera, onde impera o pensamento de manada.

Já que o novo ópio do povo é a metáfora futebolística, deixem-me soltar a última aqui porque meu estoque de metáforas está se esgotando. Tentem imaginar o debate político como se fosse um estádio lotado. Agora imaginem que houve uma daquelas tradicionais pancadarias e só sobraram lá as torcidas organizadas, armadas de paus, pedras e bombas. Para dar uma voz política à imensa maioria que se recusa a participar da barbárie, só sobram eles: petuscos e tucaneiros. E o pior é que 2010 será a primeira eleição presidencial em que eles serão protagonistas, se aproveitando do vazio oferecido pelos candidatos. Certamente, esta será mais uma grande contribuição para que o Homer Simpson brasileiro fique ainda mais distante da política.

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