quinta-feira, 21 de novembro de 2013

LOBISOMEM DE SERRINHA captura lobo voador de Vilas e recebe medalha

Cabeça do lobo exposta na parede de troféus para quem quiser ver
Foto: BJÁ
 
   Passei uma semana prestando serviço a compadre que mora no balneário de Vilas do Atlântico, em Lauro de Freitas, com a missão de capturar uma cabeça de lobo voadora que estava atormentando uma rua daquela comunidade e já havia, comido um galo pedrez de um dos seus vizinhos, escurraçado a gata branca de dona Gracia, outra vizinha, assombrado as filhas de Sêo Félix que, por medo já não estavam frequentando a escola, e comido ovos de ninhos de rolinhas isso em compadrio com um mico cara rajada.

   O medonho estava apavorando a todos daí que fui convocado para capturá-lo, pois, se vocês não sabem também faço esse tipo de serviço além dos tachos de cobre que produzo em minha oficina.

   E, embora não seja o bispo dom Gregório, eventualmente, trabalho exorcizando "Pés-de-Botelho" em pessoas possuidas. Não vou dizer que esse lobo voador seja um manfarico, porque depois que capturei-o vi que se tratava de um lobo malassombrado, assim como tem a mula sem cabeça, há lobos sem corpos que voam numa velocidade impressionante, mais do que os objetos do quadriciclo de Harry Poter.

   Não foi tarefa fácil essa de capturar esse medonho e nos primeiros dias comi o pão que o diabo amassou para pegá-lo, sem conseguir. 


 
   Primeiro achei que poderia fazer o trabalho sozinho, mas, ledo engano, tomei um baile do voador nas investidas iniciais esperando-o escondido atrás de um pés de ixórias gigantes, disfarçado de uma delas em flor amarela. Quando o medondo apareceu para se refrescer na piscina do "home", noite de lua, saltei fora das plantas e dei o bote, porém, o bicho era visgoço e como um raio escapou de minhas garras soltando um uivo atormentador.

   Dia seguinte tomei uns conselhos com Aninha de Zipriano, especialista em magias, e ela recomendou que fizesse uma armadilha com uma galinha de bozó, meia duzia de acarajés e uma garrafa de proseco italiano com uma substância sonífera dentro, tudo bem exposto, para que, quando o lobo voador provasse da comida e da bebida ficasse tonto e aí seria moleza pegá-lo.
  
   Deu errado porque o medonho tomou quase toda a garrafa de proseco, comeu três acarajés, e quando eu achava que ele estava tonto, isso nas proximidades de uma amendoeira às margens do Rio Sapato, o bicho deu um rodopio com a minha proximidade saiu zunindo por sobre as águas do rio que foi parar, suponho, lá na desembocadura do Joanes, segundo testemunhas que viram o objeto voador na colonia de pescadores de Sêo Tourão.

   Inclusive teve um pescador que vinha de uma puxada de peixe numa jangadinha que ficou tão apavorado que caiu n'água pensando que se tratava de um meteorito e pudesse lhe fazer mal, quase perdendo duas arraias grandes que havia fisgado no mar de Busca Vida.

   Creio que para zombar de mim, teve um dia de domingo, praia lotada de gente o voador deu uma rasante sobre as tendas da barraca Odoyá causando pavor, dona Maria do Acarajé ainda tentou abatê-lo com sua colher de pau, o bicho uivou sobre o longue da barraca Mare Blu apavorando moçoilas que curtiam o sol e sairam correndo e derrubando garrafas de cerveja ao solo e se chocou com a bola de volei da turma do Cori, na barraca da Gávea, furando-a, e se dirigiu ao mar como se fosse um kitsurf a jato.

   Aí meu compadre me recomendou que falasse com Irará Perfumoso, o camarada que limpla seus coqueiros, pois, disse que esse camarada é ardiloso e poderia ajudar na captura. 

   E não é que deu certo! Irará trouxe de casa uma rede de pegar morcegos que teceu com linha de aço e nós montamos a rede na curva da rua da Gávea, por onde sempre o mendonho passava fazendo suas piruetas, nos escondemos às margens do rio Sapato embaixo de uma árvore em campana durante à noite e quando deu meia noite, eu com as garras de fora, o bicho apareceu feito um boeing, passou pela Pousada Magia das Flores e se bateu de tal forma na rede que ficou com o fucinho preso.

   Aí nos aproximamos do medonho rapidamente, Irará portando um fação que corta as palhas dos coqueiros e um vidro de Toque de Amor, e eu pus minha maior garra de fora, e pegamos o medonho pelas orelhas e colocamos dentro de um saco de alinhagem sufocando o danado até que ele esmureceu e apagou de vez embebido no tal perfume.

   Não pense que foi assim uma coisa fácil. Teve luta corporal de uma meia hora porque o bicho, mesmo preso pelo fucinho e depois posto no saco de alinhagem ainda tentou voar, saiu nos arrastando até a borda do rio, Irará escorregou e ainda bebeu água, e eu fiquei firme segurando suas orelhas até dominá-lo por completo.
 
 
   Dia seguinte houve uma reunião no Clube de Vilas para apresentar o troféu com a presença de todos nós, meu compadre usou da palavra, Irará distribuiu cartões de visitas para quem quizesse contratar seus serviços de cortador de palhas de coco, Aninha de Zipriano vestiu um longo arrepiante, e eu estive discreto usando minha capa colonial para que ninguém zombasse dos meus pelos.

   Recebemos, inclusive, condecorações da Salta, a organização de segurança e amparo dos moradores do balneário, medalhas douradas que ostentamos em nossas lapelas.

   Depois, em nova solenidade, já com a cabeça do bicho empalhado, aí com as presenças de parentes nossos, um colberzão da Feira, um lapão do Quijingue, a vampira do Araci,  autoridades amigas de meu compadre do município de Lauro, o danado foi posto empalhado na parede na galeria de preciosidades do meu compadre junto a sua churracaria.

   De volta a Serra, minha neta Sol já sabendo do acontecido e da minha façanha, perguntou: - Meu vô esse Lobo não vai querer se vingar da gente?".

   Eu respondi: - Como sua vó EsterLoura deu pra frequentar sessões espíritas, creio que só vem por acá noutra encarnação.

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